O gênero terror não pertence somente aos livros e filmes. Pra quem souber aonde procurar, os quadrinhos relacionados ao mundo do terror podem ser tão assustadores quanto suas contrapartes cinematográficas. A editora americana EC Comics foi uma das pioneiras do terror em gibis nos anos 40 e 50, com suas histórias curtas que sempre continham uma lição de moral envolvendo os maus atos de algum personagem. A Warren Publishing também foi responsável pelo surgimento das revistas Eerie e Creepy (cujos primeiros 5 números foram republicados em forma de encadernado).
Porém, nos tempos mais cínicos em que vivemos, o horror de moral perdeu espaço para histórias mais pessimistas onde nenhum fator positivo ficava na mente do leitor, a não ser a angústia e o medo. Eis que surge o roteirista Steve Niles.
Niles nasceu em Nova Jersey, em 1965, e pode-se atribuir a ele o ressurgimento dos quadrinhos de terror, com uma obra tão marcante quando assustadora: a série 30 Dias de Noite. A premissa é bem simples: no Alasca, por um período de 30 dias no inverno, o Sol não dá as caras. A história começa na cidadezinha de Barrow, onde o xerife Eben Olemaun cuida para que a cidade tenha tudo que precisa para passar com conforto esses 30 dias de noite. Mas toda essa escuridão atrai um grupo noturno bem conhecido de todos nós: vampiros. Excitados com a possibilidade de passar um mês se deleitando no sangue dos habitantes de Barrow, os vampiros não pensam duas vezes em atacar a cidade.
O roteiro de Niles é direto ao ponto: logo que abrimos o primeiro volume, o clima desolador e sombrio do livro já fica aparente ao leitor. Obviamente, Niles jamais teria atingido seu intento se não fosse pela arte maravilhosa e macabra de Ben Templesmith, com traços distorcidos e sombrios, que ainda mantém o leitor ciente de tudo o que está acontecendo. Em 30 Dias de Noite, sobra brutalidade. Pra quem gosta de sangue e violência, o álbum é um prato cheio.
O sucesso foi tanto, que a obra virou filme em 2007. Dirigido por David Slade, com Josh Hartnett no elenco, o filme recaptura boa parte do clima sombrio dos quadrinhos, mas ainda não consegue ser tão sombrio quanto o original.
30 Dias de Noite – Dias Sombrios é a continuação direta da história, apenas trocando o Alasca pela ensolarada Los Angeles. O autor aproveita que a ‘surpresa’ do argumento original já se esgotou, e decidiu colocar os vampiros no meio da cidade, explorando outros desdobramentos do seu argumento. Em Retorno à Barrow, terceiro volume da série, a cidade ainda tenta retomar o curso de sua vida quando novos vampiros surgem para continuar se alimentando dos pobres habitantes. Desta vez, a aposta de Steve Niles é na ação e na tensão. Cada movimento desenhado por Ben Templesmith passa a urgência necessária não apenas para deixar o leitor assustado, mas também com o coração acelerado.
No quarto volume, Eben e Stella, a história mostra os eventos que aconteceram durante Dias Sombrios e Retorno à Barrow. Falar mais do enredo é entrar em território de spoilers. O quinto número, Contos de Terror, aposta em histórias isoladas usando poucos personagens anteriores. O destaque vai para o conto em que os vampiros invadem uma nave espacial da NASA.
Neve Rubra é o sexto volume de 30 Dias de Noite a ser publicado no Brasil, e desta vez Ben Templesmith cuidou tanto dos desenhos quanto do roteiro. A trama volta no tempo para a Segunda Guerra Mundial, quando o exército britânico enfrentou um assassino mais poderoso do que o inverno intenso da Rússia.
Todos os volumes foram publicados pela editora Devir. E olha, a série não somente é um exemplo de qualidade narrativa, mas graças ao trabalho editorial da Devir, 30 Dias de Noite irá embelezar qualquer estante! Você deve a si mesmo conhecer esses quadrinhos sensacionais!