Olá, cyberleitores!
Estamos retomando as resenhas aqui no blog e a obra resenhada da vez é…
NEUROMANCER
“O céu sobre o porto tinha cor de televisão num canal fora do ar”
Essa única frase, além de iniciar a leitura de Neuromancer, também dá o tom do que vamos encontrar ao longo do livro de William Gibson; um cenário diferente e ao mesmo tempo igual a tudo que já vimos!
Neuromancer foi o livro que contribuiu para o início do cyberpunk; sub-gênero da ficção científica que retrata um avanço tecnológico inversamente proporcional ao social.
No futuro, existe a matrix; um espaço de alucinação que existe no ciberespaço como forma de manipular dados. E os homens e mulheres que conseguem participar da matrix são chamados de cowboys, sendo que eles necessitam de decks especiais para poder entrar.
O protagonista de Neuromancer é o cowboy Case, que depois de tentar passar a perna em um empregador, perdeu sua capacidade de entrar na matrix.
Desesperado e com uma veia suicida, Case aceita um trabalho misterioso vindo de Armitage – um militar com um passado misterioso – em troca de poder retornar. Aliado com Molly Millions, uma samurai de rua com implantes cromados no lugar de olhos e unhas retráteis, Case adentra um submundo de interesses corporativos, espionagem, manipulação de informações e inteligências artificiais sencientes.
No mundo atual, alguns recursos utilizados pelos personagens soam bastante datados e as descrições dos cenários lembram bastante uma paisagem de filme oitentista de sci-fi. E isso é exatamente o que o Guh aqui adora!
Esse ar retrô futurista dá uma sensação única durante a leitura, me fazendo pensar naqueles clássicos trash de sci-fi em VHS que se encontravam no cantinho da locadora.
Mas, Neuromancer é tudo, menos trash!
William Gibson pode não ter sido um bom futurista, mas acertou na sua visão sobre o domínio das corporações no cotidiano e na nossa atual dependência de tecnologia pra fazer qualquer coisa.
O autor imagina um mundo onde inteligências artificiais criam “vida” e passam a ter desejos humanos e (quase) divinos. E está aí a sacada do livro: os personagens humanos são quase máquinas funcionais, fazem apenas o que lhes é requerido do enredo, com um ou outro intervalo onde podemos enxergar alguma humanidade neles. São as I.A.s que recebem o maior indício de profundidade de personagem. O que é bastante interessante e perturbador.
Dois anos antes da publicação de Neuromancer (1984), o filme Blade Runner (<3) já havia tocado nos mesmos temas de humanidade em máquinas e, devo dizer, de forma bem tocante.
Porém foi o livro de William Gibson que cimentou o cyberpunk no imaginário coletivo!
A escrita pode parecer um pouco difícil à primeira vista, mas o autor vai direto ao ponto e, em uma única frase, coloca uma informação que será importante ao longo do enredo todo.
Apesar da frieza dos personagens, o leitor se sente investido na jornada de Case para cumprir a estranha missão que lhe foi dada. É uma sensação ímpar se aventurar na mega cidade que o autor imaginou para suas histórias: o Sprawl. (Um conglomerado de cidades americanas interligadas entre si, formando uma mega mega megalópole, sacaram?)
E a cada ano que passa, a importância de Neuromancer é reiterada tanto quanto literatura, quanto pelas inovações que trouxe. Além de ser responsável pela criação da palavra ‘ciberespaço‘, Gibson pavimentou muito do que viríamos a conhecer como a internet!
O autor lançou duas continuações que se passam no universo do Sprawl: Count Zero e Mona Lisa Overdrive, todas publicadas pela (excelente, incrível, maravilhosa) editora Aleph!
Aliás…
A Aleph vem sendo um pilar da ficção científica no Brasil, publicando autores como Isaac Asimov, Philip K. Dick, Frank Herbert, Arthur C. Clarke, Ursula K. Le Guin, ente outros… Além de publicar clássicos como: Laranja Mecânica, a série John Carter de Marte, O Planeta dos Macacos, a graphic novel O Perfuraneve e, atualmente, também cuida da publicação dos romances de uma certa saga espacial chamada Star Wars, já ouviram falar?
E para quem ainda não viu, edição de 30 anos de Neuromancer está caprichadíssima e vem com três contos extras: Johnny Mnemônico, Queimando Cromo e Hotel New Rose! Estes textos ajudam a ambientar, ainda mais, o cyberpunk na mente do leitor e contribuem para atestar a genialidade de William Gibson, que ousou sonhar com a internet lá no começo dos anos 80, antes de sermos completamente viciados nela.
Eu, com certeza, recomendo a leitura para quem gosta do mundo cyberpunk ou tem curiosidade de conhecer!
E para ajudar a entender melhor o livro, eis a sinopse oficial da obra:
“No futuro, existe a matrix. Uma espécie de alucinação coletiva digital na qual a humanidade se conecta para, virtualmente, saber de tudo sobre tudo. Mas há uma elite que navega por essa grande rede de informação – os cowboys. Case era um deles, até o dia em que tentou ser mais esperto do que os seus patrões. Que fritaram suas conexões com o ciberespaço, tornando-o um pária entre os seus iguais. Ele vaga pelos subúrbios de Tóquio, mais envolvido do que nunca em destruir a si próprio, até ser contatado por Molly, uma bela e perigosa mulher que, assim como ele, desconfia de tudo e de todos. Os dois acabam se envolvendo numa missão cheia de mistérios e perigos. Esta edição comemorativa de 25 anos de ‘Neuromancer’ conta com nova tradução de Fábio Fernandes e prefácio de William Gibson. O romance de estréia de Gibson é o primeiro volume da chamada ‘Trilogia do Sprawl’, que ainda inclui os livros ‘Count Zero’ e ‘Mona Lisa Overdrive’.”
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Texto by Guh Valente